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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Pára mas continua

Sinto-te mais perto, tão perto que consigo ouvir o bater coordenado do teu coração. A minha cabeça é uma bomba. Sinto um leve respirar ofegante, gelado, no meu ouvido – sei que és tu - sinto-te correr no meu corpo, sinto as tuas palavras como choros do meu coração, sinto o teu sangue fervilhar nas minhas veias, sinto o teu toque arrepiante na minha mão, sinto…pára! 
Por onde andas? Sinto-me tão frágil, tão desprotegida e tão pequena. Falta-me o teu aconchego e o teu abrigo. Às vezes deixo de raciocinar, só tu me ocupas o pensamento. Já para não falar dos dias em que me assombras. Sim, assombras-me todo o dia e toda a noite. Chego a acordar com a tua voz a ecoar na minha cabeça. Já que me deixaste aqui sozinha, exposta a todos os perigos, porque não te desprendes do meu coração? Usas e abusas de tudo o que eu tenho para dar. Mas não posso, nem quero, dar mais. 
Eu dava a vida por ti. Dei-te tudo o que tinha e não tinha. Mas mesmo que caminhes pé ante pé até mim e me agarres com força, eu poderei, mesmo assim, fugir de ti.

Vodka Morango

Tanto Veneno

Sinceramente, não sei por onde começar… Pesa cada momento, desde o inicio ao fim… Apareceste, não consigo determinar se foi numa boa ou má altura… Apareceste! 
Oh se eu fosse a contar quantas vezes suspirei pelo teu olhar intenso, pelo teu toque calmo, pelos teus doces lábios, pelas tuas melodiosas palavras… Oh se eu fosse a contar quantas vezes adormeci a sonhar com os teus beijos… Se eu fosse a contar quantas vezes chorei pela tua ausência, pelas perguntas frequentes da minha cabeça, pelas tuas frases inacabadas, pelas tuas respostas inúteis…Sinto-me tão idiota!
Disciplinaste tão bem o meu coração para se converter teu escravo. Cravaste tão bem o teu nome, abandonaste tão inocentemente o teu cheiro no meu corpo.
Tentei ser forte, juro que tentei ser forte… Tentei resistir… Mas sou tão fraca! Tão fraca!
Acreditei tanto no meu infiel coração, acreditei tanto no teu olhar, nesse doce crime que é o teu olhar… Deixei-me arrastar pela corda, deixei que ela me desse a volta ao pescoço, que ela me amarrasse a ti…
Acreditei tanto no meu desejo que deixei que a esperança me amarrasse o coração. Oh sofro tanto a falta do subtil toque, das palavras murmuradas ao ouvido, dos arrepios… Sinto tanto a ausência da tua morte em mim! E que doces, quentes venenos eram beijos teus!
Tantas vezes me perguntei - Porquê? – Porquê insistir numa cegueira tão sólida? Porquê cair uma, duas, três vezes no mesmo abismo? Porquê levantar-me quando o salto já está previsto? Porquê lutar pela vida quando o veneno já começou o seu domínio? Porquê continuar com questões quando estou ciente de que nunca vou adquirir resposta?
Guardo cada recordação, cada palavra como se fosse um tesouro… Sim confesso, que cada gesto teu é uma ferida aberta em mim, que cada aproximação tua é uma esperança que se esfuma, que cada lágrima é o que resta do teu vírus em mim… Que cada vez que tenho coragem de pronunciar o teu nome, é mais um vestígio de saudade…
Há tanto, tanto para dizer… Tanto! Tanto veneno que ainda me vagueia nas veias, tanto veneno ainda por derramar… 

Vodka Morango

Cartas e Danças a Ninguém

Imagino-me sentada num velho banco de madeira pintado de azul (banco que eu mesma pintei) de caneta e papel na mão a escrever cartas a ninguém… Cartas que vou mandar pelo correio a uma morada em branco… Cartas que o carteiro me virá devolver… E cartas a que eu me vou sentir na obrigação de responder… 
Vou escrever um livro que não vai ter sentido algum… Vou chamar-lhe livro porque vai ter imensas folhas, muitas delas em branco, outras com umas enormes barbaridades e umas manchas secas de café. Nas noites de lua cheia, vou abrir as portadas da varanda, vou cantar a música mais triste e vou dançar… Vou dançar sozinha!
Um dia, vou subir ao telhado – como faço todas as noites em que sinto saudade – para contar as estrelas. Nesse dia vai estar a chover. Vou sentir a chuva lavar-me o rosto e o quanto calmante isso é. A lua vai lá estar e vai convidar-me para uma última dança, descalça, vou levantar-me, vou erguer a mão ao céu e vou dançar com a lua no telhado… A dança vai terminar com um passo escorregadio, vou abrir os braços, atirar-me de cabeça e finalmente vou ser livre… de voar! 

Vodka Morango

Mortes Embriagadas

De garrafa vazia na mão, arrasto o meu corpo, agora morto, até á tua porta. Comigo carrego as feridas das memórias e as hemorragias constantes do meu coração. Embebedo-me de vazio, enquanto observo atentamente cada traço da palma da minha mão.
Limito-me a sangrar, a sentar-me e a observar as almas perdidas que vagueiam na noite que se cobre de silêncio.
O sangue que se espalha no asfalto, abandonado, calcado, dá forma a cada passo, a cada caminho.
É como se o tempo não me deixasse continuar, como se o relógio descansasse os ponteiros deixando-os morrer para sempre, como se tudo acabasse no momento em que estávamos determinados a perder tudo por um beijo…
Lembro-me de ouvir cada passo teu que se coordenava com o bater ansioso do meu coração, que se tornava mais forte á medida que te aproximavas, enquanto eu mantinha os olhos no chão e contava todas as pequenas pedras como quem conta os segundos do relógio. Como se o tempo tivesse quebrado a corrente rotineira dos ponteiros do relógio, nada mais existia para além de um mundo de sombras paralelo a nós.
Sentia o teu leve respirar, as tuas doces palavras indefinidas no meu ouvido, enquanto o teu corpo se aproximava lentamente do meu. Instintivamente todos os pensamentos foram-se apagando enquanto uma explosão de sentimentos era partilhada pelo quente e puro toque de um beijo proibido. Sentíamos o perigo, mas não queríamos desistir…


Vodka Morango