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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dançavam - Parte I.





É tarde.
Não me perguntes porque continuo aqui sentada, a insistir nas teclas, como quem insiste em dar algo a alguém, mesmo sabendo da futura retribuição que possa vir a ter. Seja ela boa ou má.
Não penses que o facto de estar a insistir nestas teclas me dá algum alento. Poderia dar, nos tempos em que mentia. Já não minto. Aliás, nunca menti, nunca soube: perdi-lhe o jeito logo à nascença.
Pois, estaria a mentir com todo o sabugo das unhas, com todo o esmalte da minha fileira perfeita de dentes (sim, o aparelho faz milagres) caso decidisse gritar ao ar que já nem me interessas, que quando caminhavas como o vento, bem perto de mim (todo o santo dia), nem sequer notava a tua presença. Que nem o teu aroma me demovia.
Lembraste quando te ensinei a dançar? Claro que não te lembras. Que loucura a minha, ensinar-te a dançar? Só mesmo naqueles meus sonhos que tocavam até as mais recônditas profundezas de um oceano inexplicável. Era fácil: segura a minha mão. respira fundo. puxa-me para o teu peito. dá um passo. prende os teus olhos nos meus. deixa-te guiar pela música. Ouvias-me como um feto ouve, na barriga, a mãe a cantar pare ele no duche. Ficavas com um ar tão humildemente inocente, tão puro, tão questionado... estampado no rosto. No entanto, movias-te como se tivesses dançado a tua vida toda. Embora os teus olhos (perfeitos) transparecessem a mais áspera dificuldade em perceber o que te ensinava. Tão bebé, tão criança... tão, tão... irresistível.
Claro, tudo pura ficção. Se alguma vez tudo isto tivesse sido verdade... bem, não vale a pena tentar encontrar exemplos cómicos: simplesmente nunca teria acontecido. Basta vermos os factos: eu - subjectiva, tu- objectivo. eu - artística, humanística. tu - científico, racional. eu - sonhadora, tu - realista. eu - livre, rebelde. tu - constrangido... And so more, so much more, more, more... so... much... more?...

(Espera, não houve alguém neste pequeno planeta habitado por gente incongruente como tu, que teve a brilhante ideia de dizer que... "os opostos atraem-se"?)

Cala-te subconsciência... nã...

(Consciência)

Ou isso, não és para aqui chamada.

(Mas...)

Cala-te.


Nunca encontrei um oposto meu tão perfeitamente esculpido como tu. Vês? Como alguma vez te poderia ter ensinado a dançar?

Não me perguntes como ainda choro ao lembrar-me do teu aroma. A sério, nem experimentes.




Vodka Limão
P.S.: Acho que menti - afinal dá-me alento. Algum. Mas pouco.




> Acabei de escrever este texto e são 2:59h da manhã. Tendo em conta o horário em que isto foi concebido, caso esteja uma valente m* (vocês conhecem a palavra, não é preciso uma menina de bem vir explicar-vos), peço as minhas mais sinceras desculpas, caros leitores assíduos. Espero da próxima vez não corromper de novo as vossas mentes com textos semelhantes. See ya.

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